Como foi 2024 para o ecossistema brasileiro de startups, segundo investidores – e os destaques da semana

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20/12/2024

Entramos na reta final de 2024! Para marcar o fim deste ano, conversamos com Orlando Cintra, Marcelo Ciampolini e Anna de Souza Aranha para captar suas percepções sobre os destaques do ecossistema nos últimos 12 meses.

Na última edição da newsletter em 2024, também trazemos insights do relatório LatAm Tech Report 2024 da Latitud, o anúncio do aporte de R$ 60 milhões recebido pela healthtech Sami, e o encerramento das atividades da Mercado Diferente.

Em clima de despedida, PEGN aproveita para agradecer os nossos leitores pela companhia e confiança nos últimos 12 meses. Na primeira semana de 2025, a newsletter 100 Startups to Watch volta, trazendo os principais destaques do ecossistema de inovação.

100 Startups to Watch é a newsletter de Pequenas Empresas & Grandes Negócios que leva a você as notícias mais relevantes do ecossistema de inovação.

Um olhar sobre 2024
Apesar de os números de 2024 ainda não estarem consolidados, já é possível dizer que foi um ano de recuperação moderada, sem grandes volumes investidos, mas com rodadas e movimentações relevantes no ecossistema. Dados da Sling Hub mostram que até o terceiro trimestre as startups brasileiras haviam captado US$ 825 milhões, 57% do total levantado no período na América Latina.

A mudança de comportamento dos investidores, iniciada no inverno das startups, permanece: eles seguem mais seletivos e cautelosos na hora de assinar os cheques. “Não existe mais o medo de perder um deal. Você consegue conhecer mais a fundo os empreendedores, pedir mais tração. Não foi um ano fácil, seguiu a toada de 2023, mas houve rodadas grandes. Apesar dos cenários macroeconômico e político desafiadores, ninguém acredita que o empreendedorismo vá retroceder”, opina Marcelo Ciampolini, sócio da Antler Brasil.

O período de escassez resultou em maior amadurecimento no ecossistema brasileiro. Para Orlando Cintra, fundador do BR Angels, o ambiente está mais sério, com pé no chão e menos suscetível a modismos.

“Já conseguimos perceber o amadurecimento das startups para entender que não existem aportes a todo momento. Procuramos educar para terem um plano A sem depender de investimento. Elas receberam o memorando de que precisam de um planejamento consistente de negócios e usar o capital de risco para acelerar, ao invés de captar para parar de pé”, aponta.

Anna de Souza Aranha, coCEO e sócia do Quintessa, enxerga o resultado de avanços iniciados em anos anteriores, com ampliação do ecossistema de negócios de impacto e um olhar mais atento para o aumento da diversidade. “Viemos de um ciclo em que precisávamos que aceleradoras, incubadoras, gestoras começassem a existir. Esse foi o ano do ponto de inflexão, de como atuar de forma coordenada e coesa para avançar no que precisamos, mesclando capital público e privado para destravar o ecossistema”, declara.

Ainda sobre a maturidade do ecossistema, Ciampolini destaca a presença mais relevante de bancos de desenvolvimento, como BNDES, Badesul e Desenvolve SP nos aportes em startups. Por outro lado, os fundos de venture capital enfrentaram mais dificuldade para estruturar novos fundos em 2024 e estão demorando mais tempo na fase de captação do que o imaginado.

Apesar da consolidação, Cintra afirma que o ano não foi melhor devido a questões macroeconômicas, como a taxa de juros (Selic) a 12,25% – o que costuma atrair os investidores para a renda fixa e afastar do risco de investir em startups, com retornos mais distantes – e o câmbio alto, com o dólar batendo recorde histórico. “Enquanto a economia não melhorar, não se destrava tudo. Com a mudança de presidente nos Estados Unidos, esperamos solavancos, existe uma toada forte para o lado da inovação, do venture capital”, opina.

Breakeven. Uma tendência que se manteve em 2024 foi a busca pelo breakeven pelas startups – nomes como Conta Simples, BossaBox, Carefy e a operação brasileira da fintech Clara anunciaram a chegada ao ponto de equilíbrio neste ano. Ciampolini diz que os investidores esperam dos fundadores a capacidade de se mostrarem sustentáveis. “Se você mostrar que está sustentável, mas tem um gargalo que o capital vai destravar, é música para os ouvidos”, afirma.


Cintra ressalta que o breakeven não deve ser artificial, alcançado após forte corte de custos e sem impacto no crescimento. Para o investidor, o divisor de águas é o plano apresentado para alcançar receita recorrente. Outro indicativo relevante é a tese de saída. “O que mantém uma startup viva são as vendas. Se não vender, a receita não para em pé. Enquanto não encontra a validação do produto, a startup queima energia e dinheiro”, diz.

Inteligência artificial. Não deu para escapar do tema neste ano. Cintra e Ciampolini alertam sobre a importância do propósito no uso da tecnologia, com destaque para o ganho de produtividade e eficiência. “Ainda vamos ter o entendimento de quais são as aplicações que fazem sentido e quais serão integradas aos grandes. Acho que ainda teremos uma mini bolha de IA”, opina Ciampolini.

Aportes
Sami. A healthtech captou uma rodada follow on de R$ 60 milhões liderada pelo fundo Mundi Ventures e o banco StoneX, em um misto de equity e dívida. Com crescimento de quase 50% em relação a 2024 e faturamento em torno de R$ 110 milhões, a startup vai utilizar o capital para potencializar o seu crescimento. Atualmente, a rede credenciada do plano inclui 250 instituições na Grande São Paulo, como os hospitais Sírio Libanês, São Camilo e HCor. No último ano, a operadora avançou na expansão da estratégia de coparticipação.

MinusSugar. A biotech fundada por brasileiros nos Estados Unidos fez o primeiro closing da sua primeira rodada de investimentos de até R$ 15 milhões. A startup que utiliza a tecnologia para remover o açúcar de sucos de frutas e outras bebidas naturais atraiu BR Angels, family offices e investidores individuais. Com a tecnologia comprovada em laboratório e acordo com players como Citrosuco e NaturalOne, a MinusSugar vai direcionar o capital para pesquisa e desenvolvimento. O modelo de negócios é B2B, com a startup licenciando a tecnologia para empresas de bebidas.


Conta Comigo Digital. Fundada em 2022 como spin-off da Contaí, a fintech tem o propósito de apoiar consumidores na gestão de contas recorrentes, como água, luz, telefonia e impostos. A startup captou R$ 3,25 milhões em uma rodada seed liderada por Urca Angels e utilizará o aporte para expandir a equipe e impulsionar as operações comerciais, com o objetivo de consolidar a posição da empresa no mercado de soluções financeiras.

Murb. O aplicativo que ajuda artistas independentes a fazer gravações com ferramentas simples e a interagir com entusiastas de música urbana conseguiu o seu primeiro investimento, de R$ 1 milhão, de um investidor-anjo não revelado. O capital será direcionado para desenvolvimento da plataforma, aprimoramento da experiência dos usuários e expansão das operações. Até agora, a Murb atraiu 45 mil usuários e mais de 30 mil músicas foram criadas. A meta é impactar 1 milhão de pessoas até 2026.

Mercado otimista
O estudo The LatAm Tech Report 2024, lançado nesta quinta-feira (19/12) pela Latitud, aponta que 69% dos entrevistados acreditam que o cenário de investimentos vai melhorar em 2025. Apenas 3,4% assinalaram que deve piorar. A percepção sobre 2024 também foi positiva entre os participantes: 48,3% declararam que o mercado se manteve similar a 2023, e 41,4% afirmaram que houve melhora em comparação com o ano anterior.

“O gelo está derretendo. No ano passado, eu não estava confiante sobre 2024 e foi um ano difícil. Eu acredito que os investimentos vão voltar a subir, mas de forma moderada. O sopro de ar fresco é olhar para tudo com o ângulo da inteligência artificial, uma tecnologia que acelera as oportunidades”, afirma Brian Requarth, cofundador da Latitud.

​​Pela primeira vez, o estudo teve um capítulo à parte para tratar de inteligência artificial. Apesar de ser o tema mais falado no ano, a região ainda recebe pouco investimento para o desenvolvimento da tecnologia em comparação com outros ecossistemas. Segundo dados do Crunchbase, enquanto a América Latina recebeu 0,4% do investimento global em 2024, os Estados Unidos receberam 62,5% no mesmo período.


Requarth destaca que o Vale do Silício (EUA) concentra boa parte do desenvolvimento de IA e que não se trata de um problema brasileiro. “O que faz falta é o conhecimento pontual. A preocupação que eu teria é com a fuga de talentos. É natural, tem brasileiros se juntando a projetos de construção de deep techs de IA, de modelos de linguagem, em São Francisco [EUA]”, comenta.

Mais uma
Depois da Justo, outra foodtech anunciou o encerramento das atividades: a Mercado Diferente, plataforma de assinatura de alimentos orgânicos “fora do padrão”, comunicou aos fornecedores e clientes que deixará de operar neste sábado (21/12). A informação foi confirmada a PEGN por Eduardo Petrelli, fundador e CEO da startup.

O anúncio chega após seis meses da captação de uma rodada pré-Série A, de R$ 9 milhões, com Collaborative Fund e Caravela Capital. Quando divulgou o aporte, a foodtech afirmou que almejava alcançar o ponto de equilíbrio ainda em 2024 e superar o faturamento de R$ 60 milhões. Em 2023, a receita girou em torno de R$ 23 milhões. O CEO declarou que tentou todas as possibilidades e que focou em M&A nos últimos meses, sem sucesso. A startup operava na capital paulista, em 51 cidades no interior de São Paulo e em algumas regiões de Curitiba.

Movimentações
M&A. A Progic, empresa de comunicação corporativa, adquiriu a Simplifica.CI, startup de soluções para comunicação interna omnichannel. O valor da transação não foi divulgado, mas a expectativa é de que a movimentação aumente em 30% a base de clientes da empresa. Os colaboradores serão totalmente absorvidos pela Progic e os usuários deverão ter acesso à experiência unificada em 2025. Presente em 15 países, a Profic tem mais de 800 clientes, incluindo Michelin, Danone e Bauducco, e alcança mais de 750 mil pessoas diariamente.

Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios

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